Seminário Política de Drogas no Brasil

 Seminário Política de Drogas no Brasil Gravado em 17 de setembro de 2011 em São Paulo, com a presença do Prof. Elisaldo Carlini compartilhando a sua sabedoria conosco.

Debate Sobre a Legalização da Maconha

A Folha promoveu na última quinta-feira (20/10/2010) um debate sobre a legalização da maconha. Mediado pelo colunista Gilberto Dimenstein, o evento ficou dividido entre defensores da legalização da venda da droga (Sidarta Ribeiro e Maria Lucia Karam), do uso da maconha como remédio (Renato Malcher-Lopes) e da manutenção da proibição (Ronaldo Laranjeira e Marcos Susskind). Confira abaixo a íntegra do encontro, o vídeo está dividido em 2 partes, .a Parte 1 começa com o Dr.Laranjeira falando, a Parte 2 começa com o Dr.Renato Malcher, é muito interessante o que ele diz sobre as propriedades medicinais da maconha.

Parte 1 - Início do Debate

Parte 2 - Dr.Renato Malcher fala sobre as Propriedades Medicinais da Maconha.


São Paulo - 23/10/2010 - 14h33
Fonte: Folha de S.Paulo - Folha.com

A MACONHA DESMISTIFICADA


Cientistas brasileiros discutem benefícios do  consumo medicinal e os efeitos nocivos da droga


Jornal O Globo - 14/10/07
Antônio Marinho


A maconha é a droga ilegal mais consumida do mundo e tem crescido a discussão sobre seus benefícios terapêuticos. Estudos já mostraram que ela pode ser eficiente no controle da anorexia e do mal-estar associados à quimioterapia. Componentes da planta teriam efeito neuroprotetor e anticonvulsivo, com perspectivas para o tratamento de epilepsia e a redução de danos neurológicos por acidente vascular cerebral. No livro “Maconha, cérebro e saúde” (Ed. Vieira & Lent), dois cientistas brasileiros apresentam os mais novos estudos sobre a droga e dizem que já está na hora de o país discutir o uso médico e os riscos do consumo abusivo.

Em seu livro recém-lançado, Renato Malcher-Lopes, do Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa, e Sidarta Ribeiro, diretor de pesquisas do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, lembram que o cérebro produz moléculas similares aos princípios ativos da planta.

E, de acordo com eles, não há evidências de que a maconha cause danos ao cérebro, mesmo em casos crônicos. Na verdade, o efeito neuroprotetor de alguns componentes parece ser eficaz no controle da degeneração associada ao mal de Alzheimer. Porém, o consumo por pessoas predispostas a transtornos psicóticos aumentaria a chance de desenvolver tais problemas. Na entrevista a seguir, Malcher-Lopes, diz que é preciso tratar o assunto de forma mais realista e avaliar as perdas e ganhos de uma descriminação da droga.

USO TERAPÊUTICO: “No Brasil e no resto do mundo muitos usuários de maconha a utilizam para aliviar sintomas de ansiedade e depressão, mesmo sem dar conta de que estão se automedicando. Há mulheres que se valem da maconha contra tensão pré-menstrual, cólicas e enxaqueca. Em países como Estados Unidos, Canadá e Holanda o uso com orientação médica já é uma realidade. No Brasil há relatos de médicos que de forma reservada sugerem o uso para alívio de sintomas graves em pessoas com câncer e epilepsia. Este caráter clandestino se deve ao estigma e às dificuldades que a nossa lei impõe ao uso médico”.

VÍCIO: “Não é verdade que a maconha vicie mais que álcool ou nicotina. Demonstrar cientificamente que a maconha causa vício não é simples. O modelo experimental usado para esta finalidade indica que animais não adquirem facilmente o hábito de se auto-inocular com THC, o mais importante princípio ativo da maconha. Ao contrário do THC, a nicotina e o álcool são altamente reforçadores do comportamento de auto-administração. O uso freqüente ou crônico da maconha é normalmente bem mais raro do que seu uso ocasional ou moderado. Em geral, mesmo os usuários crônicos enfrentam poucos problemas para abandonar a maconha, quando desejam. O desenvolvimento de tolerância aos efeitos da maconha tende a desestimular o seu uso crônico. Isso não significa que ela não possa causar dependência psicológica, mas creio isto está mais associado às idiossincrasias de cada um do que às características farmacológicas da droga usada”.

MEMÓRIA: “Não há evidências de que os componentes da maconha matem neurônios. Ao contrário, alguns carabinóides da planta protegem os neurônios contra radicais livres. A maconha desvia a atenção do indivíduo favorecendo a introspecção reflexiva ou a concentração num aspecto do ambiente, o que em geral ocorre em detrimento da capacidade de se prestar atenção de forma distribuída. Enquanto dura seu efeito, a maconha reduz muito a capacidade de se armazenar memórias temporárias, a ponto de dificultar a conclusão de frases ou linhas de raciocínio mais longas. Isto é transitório e não afeta a estabilidade ou a recapitulação de memórias previamente consolidadas”.

DEPENDÊNCIA: “Diferentemente de cocaína, heroína e álcool, a maconha não causa dependência fisiológica. Os circuitos neuronais envolvidos na regulação do equilíbrio fisiológico se adaptam à presença constante dessas drogas de forma diferenciada. Heroína e cocaína ajustam a fisiologia de tal forma que com a interrupção do uso as ações que dependem da regulação exercida pelo sistema nervoso entram em colapso, causando síndrome de abstinência grave e duradoura”.

ABSTINÊNCIA: “A síndrome de abstinência da maconha em humanos é amena e dura poucos dias, sendo caracterizada, sobretudo, por irritabilidade e diminuição do apetite. De maneira geral, a maconha é menos nociva do que o álcool, o tabaco, a cocaína e a heroína. Isto continuaria sendo verdade mesmo que as outras drogas não causassem dependência fisiológica. Nos casos específicos da cocaína e da heroína, o maior agravante é a tolerância que essas drogas causam, isso faz com que os usuários precisem de doses cada vez maiores para obter os efeitos desejados. A overdose do álcool raramente mata, mas pode levar ao coma. Maconha produz tolerância, mas não leva ao coma ou à morte por overdose”.

DEPRESSÃO: “A superação de qualquer dependência psicológica parece depender mais das características e do estado psicológico do individuo do que da droga. Da mesma forma que a dependência psicológica pode estar associada a um estado depressivo, eventos que representem reviravolta positiva na vida podem gerar estado de bem-estar estável para neutralizar a dependência. Por outro lado, se as causas orgânicas e/ou circunstanciais da depressão (ou da ansiedade) permanecem, a dependência psicológica pode se aprofundar. É mais fácil se livrar da dependência psicológica da maconha, se ela ocorrer, do que da dependência fisiológica das outras drogas, até por que essas últimas também podem levar à dependência psicológica”.

GESTANTES: “Filhos de mães que usaram maconha na gravidez tendem a apresentar desempenho cognitivo pior em comparação com filhos de mães que não a consumiram. A gestante deve evitar quaisquer drogas lícitas ou não”.

DESCRIMINAÇÃO: “Quem assiste ao filme ‘Tropa de elite’ tem um retrato realista da brutalidade associada ao combate às drogas feito pelo Estado no Brasil. Devemos questionar porque, afinal, tanta morte e desgraça em ambos os lados devem ocorrer à custa de nossos impostos para que se tente impedir, em vão, que a maconha chegue às mãos de cidadãos adultos. O álcool pode ser muito mais prejudicial à saúde e à sociedade do que a maconha. Ainda assim, lidamos no Brasil com os riscos que o uso abusivo do álcool representa, inclusive para crianças e adolescentes, sem derramar rios de sangue. Na Holanda, um jovem epiléptico ou uma senhora com câncer vão à farmácia comprar maconha medicinal e não são perturbados por policial ou bandido. A realidade encoraja a discussão acerca da regulamentação do uso da maconha com regras semelhantes àquelas aplicadas ao álcool, restringindo a venda a lojas credenciadas e proibindo a menores. Esta medidas afastariam usuários de maconha do submundo criminoso”.

Jornal: O GLOBO Autor:
Editoria: Ciência_e_Vida Tamanho: 1091 palavras
Edição: 1 Página: 44
Coluna:  Seção:
Caderno: Primeiro Caderno  

Maconha em Debate no 3a1



Neurocientista Renato Malcher, desmitificando alguns "pre-conceitos" e trazendo uma visão científica a questão da maconha no Programa 3a1.


Veja um trecho do Debate abaixo:




O programa debate a proposta de descriminalização do uso da maconha.

O assunto ganhou repercussão depois que a "Marcha da Maconha" foi liberada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo avaliação do STF, manifestar opinião a favor não significa ser usuário ou adepto da maconha.

Especialistas afirmam que o uso da erva para fins terapêuticos deve ser estudado com profundidade já que, segundo eles, ela pode aliviar sintomas de algumas doenças como o mal de Parkinson, disfunção motora, dores causadas por danos no sistema nervoso, entre outras.

Para os que são contra, o receio é de que o uso recreativo da maconha aumente com a descriminalização. Afirmam ainda que o excesso da droga pode causar déficit da capacidade cognitiva e da memória. Outro ponto polêmico é se a maconha é realmente porta de entrada para outras drogas como o crack e o óxi. A lei brasileira é muito ambígua e hoje a definição de traficante e usuário cabe à polícia.

Participam do debate o advogado Mauro Chaiben, da Associação Brasileira de Estudos Sociais e Psicoativos (ABSUP); o deputado Federal João Campos (PSDB-GO), líder da bancada evangélica da Câmara; e o neurocientista Renato Malcher, do Instituto Cérebro, Mente, de Lausanne na Suiça, e autor do livro Maconha, Cérebro e Saúde. A apresentação do programa 3 a 1 é do jornalista Luiz Carlos Azedo.

O vídeo abaixo é o Debate Inteiro, são 3 partes.

Estudo explica elo entre Maconha e Fome

RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo

Um neurocientista brasileiro conseguiu elucidar em detalhe o mecanismo bioquímico que conecta a regulação do apetite aos chamados endocanabinóides --substâncias naturais do organismo que imitam a ação dos derivados da a maconha. Renato Malcher-Lopes, do Instituto Cérebro Mente de Lausanne, na Suíça, evita usar a expressão "larica", mas seu estudo de fato ajuda a explicar a fome súbita que usuários da droga sentem após consumi-la.

"Nós mostramos que o endocanabinóide da área do cérebro que controla o apetite é regulado por dois hormônios muito relevantes para a fisiologia dos animais: os glucocorticóides e a leptina", disse Malcher-Lopes à Folha. Trabalhando com fatias de cérebro de rato cultivadas em laboratório, o pesquisador mostrou que enquanto os glucocorticóides fazem aumentar a concentração de canabinóides, a leptina a faz cair.

 
Em estudo no periódico científico "The Journal of Neuroscience", o cientista mostra passo a passo quais são as enzimas envolvidas nesse processo. "A industria farmacêutica pode agora olhar para cada uma delas e tentar buscar alterar suas atividades específicas", diz Malcher-Lopes.

Além de detalhar a cadeia bioquímica de reações envolvida no processo, o grupo de Malcher-Lopes descobriu que o aumento de apetite pelo consumo de maconha aumenta por meio de duas vias. A primeira delas, que já era explicada pela ciência, é fazendo que os usuários sintam mais prazer com o sabor da comida. "Mas o endocanabinóide também inibe o dispositivo que o cérebro tem para levar o animal a parar de comer", explica o pesquisador.

Além da maconha medicinal usada por pacientes com problema de falta de apetite, como doentes de Aids, já existem drogas que se valem do mesmo princípio, mas para cortar a fome, bloqueando sinais de endocanabinóides no cérebro. Agora que se sabe como esses medicamentos atuam, é possível planejar melhor sua aplicação, adequando-a aos horários de alimentação, por exemplo.

Encruzilhada metabólica

O trabalho de Malcher-Lopes, apesar de se voltar mais à explicação molecular do controle do apetite, pode ajudar a investigar outros fenômenos hormonais no organismo.

"Os canabinóides estão aparecendo cada vez mais como uma grande encruzilhada metabólica", diz Sidarta Ribeiro, diretor de pesquisa do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, em fase de implantação. "Eles também têm relação com estresse, sono, memória e, provavelmente, controle emocional".

Segundo Ribeiro, o estudo dessas moléculas tem crescido muito nos últimos 15 anos, desde que se descobriu que elas existiam naturalmente no cérebro. Enquanto em 1991 o banco de dados PubMed listava apenas um estudo sobre endocanabinóides, em 2005 já havia 70 trabalhos.

O crescimento da área deixa Malcher-Lopes entusiasmado com a possibilidade de aplicação de seu estudo. "É como se a gente tivesse descoberto um botãozinho dentro do cérebro que regula uma série de sistemas hormonais muito relevantes para a sobrevivência do animal em situações diárias e de estresse", diz.

Depois de aperfeiçoar sua técnica, o cientista pretende trabalhar com animais vivos para confirmar seus estudos. "Queremos procurar estratégias farmacológicas para tratar diversas mazelas, associadas tanto ao excesso de estresse quanto ao excesso de peso."






Dr. Renato Malcher.
Renato Malcher é Mestre em Biologia Molecular pela Universidade de Brasilia, doutor (Ph.D) em Neurociências pela Universidade Tulane (New Orleans, EUA), Fez Pós-Doutorado em Neurofisiologia Celular na Escola Politécnica de Lausanne- Suiça e em Bioquímica Analítica, na EMBRAPA. É professor adjunto do Departamento de Fisiologia da Universidade de Brasília e primeiro autor do livro "Maconha, Cérebro e Saúde" escrito em colaboração com Sidarta Ribeiro.  

fonte: Folha de S.Paulo 

Maconha, uma planta medicinal - RENATO MALCHER-LOPES

A atual legislação do país sabota a pesquisa e impede a exploração assistida das baratíssimas propriedades medicinais da maconha
Houve época em que o uso de determinadas plantas medicinais era considerado bruxaria, e às almas das bruxas restava receber benevolente salvação nas fogueiras da Inquisição. Atualmente, o estigma que a maconha carrega faz, para muitos, soar como blasfêmia lembrar que se trata, provavelmente, da mais útil e bem estudada planta medicinal que existe.
Pior, no Brasil, se alguém quiser automedicar-se com essa planta, mesmo que seja para aliviar dores lancinantes ou náuseas insuportáveis, será considerado criminoso perante uma lei antiética, sustentada meramente por ignorância, moralismo e intolerância.
Apesar de sua milenar reputação medicinal ser inequivocamente respaldada pela ciência moderna, no Brasil, a maconha e seus derivados ainda são oficialmente considerados drogas ilícitas sem utilidade médica. Constrangedoramente, acaba de ser anunciado, na Europa e nos EUA, o lançamento comercial do extrato industrializado de maconha, o Sativex, da GW Pharma. 
Enquanto isso, nossa legislação atrasada impede tanto o uso do extrato quanto o uso da planta in natura ou de seus princípios isolados.
Consequentemente, pessoas em grande sofrimento são privadas das mais de 20 propriedades medicinais comprovadas nessa planta.
Um vexame para o governo brasileiro, já que, em países como EUA, Canadá, Holanda e Israel, tais pessoas poderiam, tranquila e dignamente, aliviar seus sofrimentos com o uso da maconha e ver garantido seu direto de fazê-lo com o devido acompanhado médico.
Ingeridos ou inalados por meio de vaporizadores (que não queimam a planta), os princípios ativos da maconha podem levar ao alívio efetivo e imediato de náuseas e falta de apetite em pacientes sob tratamento quimioterápico, de espasmos musculares da esclerose múltipla e de diversas formas severas de dor -muitas vezes resistentes aos demais analgésicos.
Pesquisas recentes indicam também o potencial da maconha para o tratamento de doença de Huntington, do mal de Parkinson, de Alzheimer e de algumas formas de epilepsia e câncer. A redução da ansiedade e os efeitos positivos sobre o estado emocional são valiosas vantagens adicionais, que elevam sobremaneira a qualidade de vida dessas pessoas e, por conseguinte, seus prognósticos.
A maconha não serve para todos: há contraindicações e grupos de risco, como gestantes, jovens em crescimento e pessoas com tendência à esquizofrenia. Em menos de 10% das pessoas o uso descontrolado pode gerar dependência psicológica reversível. Mas, ponderados riscos e benefícios, para a grande maioria das pessoas, a maconha continua a ser remédio seguro.
A biotecnologia brasileira tem todas as condições para desenvolver variedades com diferentes proporções de princípios ativos, reduzindo efeitos colaterais e aumentando a eficácia das plantas (ou de seus extratos) para cada caso.
Indiferente, contudo, à ciência e à ética médica, a atual legislação brasileira sabota nossa pesquisa básica, clínica e biotecnológica nessa área de ponta e impede por completo a exploração assistida das preciosas e baratíssimas propriedades medicinais dessa planta.
É hora de virar esta página carcomida pelo obscurantismo e pelo desdém com o sofrimento humano, fazendo valer não apenas direitos fundamentais dos indivíduos mas também as próprias diretrizes da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que, segundo o Ministério da Saúde, tem por objetivo: "garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional".

Por Dr. Renato Malcher.

Renato Malcher é Mestre em Biologia Molecular pela Universidade de Brasilia, doutor (Ph.D) em Neurociências pela Universidade Tulane (New Orleans, EUA), Fez Pós-Doutorado em Neurofisiologia Celular na Escola Politécnica de Lausanne- Suiça e em Bioquímica Analítica, na EMBRAPA. É professor adjunto do Departamento de Fisiologia da Universidade de Brasília e primeiro autor do livro "Maconha, Cérebro e Saúde" escrito em colaboração com Sidarta Ribeiro.  


fonte: Folha de São Paulo

Renato Malcher: Maconha, Esquizofrenia E O Paradoxo Ético Dos Psiquiatras Que São Contra O Uso Medicinal Da Maconha

Nenhuma pesquisa cientifica JAMAIS demonstrou que o uso de maconha, ocasional ou crônico, possa causar esquizofrenia. Aliás, não se conhece nada que tenha sido cientificamente estabelecido como agente etiológico direto para distúrbios mentais classificáveis como esquizofrenia.

No Brasil este tema vem sendo erroneamente colocado de forma alarmista em grande parte por decorrência de declarações repetidas na grande mídia pelo Dr. Ronaldo Laranjeira, um dos principais representantes de um grupo de psiquiatras e donos de clínicas de reabilitação os quais são contra o uso medicinal da maconha. Em recorrentes ocasiões, Dr. Laranjeira e seus colegas, de forma artificial e aparentemente deliberada, coloca em oposição os interesses legítimos e não excludentes de grupos totalmente distintos e igualmente merecedores dos cuidados e da atenção de profissionais da saúde e daqueles que detém conhecimento cientifico a respeito das propriedades farmacológicas da maconha e seus derivados. De um lado, existe uma minoria, menos de 1% da população, que possui predisposição para esquizofrenia, os quais, de fato, podem ser negativamente afetados pelo uso descontrolado da maconha vendida pelo mercado negro.  Do outro, está um número enorme de pessoas, 99% da população, que podem se beneficiar das propriedades terapêuticas da maconha, incluindo inúmeras pessoas que já padecem de sofrimentos severos para os quais não existe disponíveis remédios tão eficientes quanto a maconha e seus derivados – conforme ampla e inequivocamente constatado pela ciência. É contra estes últimos, e não a favor dos primeiros, que funciona a postura alarmista que se baseia na falácia de que maconha causa esquizofrenia para impedir seu uso medicinal. Por isso, esta postura é duplamente antiética, já que obscurece a adequada difusão de informações científicas de forma acurada e responsável,  e que, portanto, não apenas priva pessoas em grande sofrimento de um alívio barato, eficiente e seguro, mas também prejudica o acesso da população a informações e condições que poderiam prevenir o problema de surtos psicóticos associado ao uso pesado de maconha na minoria suceptível.

O que se constatou em pesquisas epidemiológicas, baseadas em amostragem e histórico de pacientes de esquizofrenia, foi o seguinte: 1) a maconha é frequentemente usada por esquizofrênicos, que tendem a preferi-las sobre outras drogas. Ou seja, muitos esquizofrênicos gostam de usar maconha; 2) o uso de maconha NÃO aumenta a frequência de esquizofrênicos numa população; 3) o uso de maconha pode adiantar em cerca de um ano a ocorrência do primeiro surto em pessoas esquizofrênicas ainda não diagnosticadas. Esses fatos, amplamente conhecidos da comunidade científica interessada no tema, são incompatíveis com a hipótese de que a maconha transforme um cérebro normal em um cérebro esquizofrênico. Se isso fosse verdade, um aumento no numero de usuários de maconha em uma dada população redundaria em um aumento posterior na frequência de esquizofrênicos na população. E mesmo que isso ocorresse, ainda assim, não estaria provada uma relação de causalidade.

Segundo Laranjeira, “cerca de 10 % dos jovens com menos de 15 anos que experimentam maconha desenvolvem quadro esquizofrênico”. A despeito dos números questionáveis, é certo que muitas pessoas que desenvolvem quadro esquizofrênico gostam de usar maconha antes de ter o primeiro surto porque, em geral, a maconha tem efeito ansiolítico e, em geral, pessoas que desenvolvem quadro esquizofrênico sofrem de ansiedade antes de apresentarem o primeiro surto, ou seja, antes de serem diagnosticadas. Isso não é novidade, inclusive, é muito comum que o primeiro surto da vida de um esquizofrênico ocorra durante um período marcado por crises de ansiedade. Ou seja, a ansiedade é uma característica prodrômica muito bem estabelecida para a esquizofrenia.

Recentemente, uma pesquisa feita no Canadá revelou que um terço das pessoas que fazem uso regular da maconha sem indicação médica o fazem para aliviar sintomas de ansiedade de forma auto-medicamentosa. Dentre estes, certamente haverá uma concentração de adolescentes que sofrem de ansiedade por serem esquizofrênicos, mesmo que ainda não tenham tido o primeiro surto. Ou seja, que ainda estão na fase prodrômica da doença. Quando experimentam maconha e percebem alivio nos sintomas de ansiedade, estes adolescentes passam a gostar e buscar o bem-estar proporcionado pela planta da mesma forma que qualquer pessoa busca aliviar seus sofrimentos com fitoterápicos ou remédios vendidos na farmácia. Quanto maior for a diferença entre uma rotina de sofrimento crônico pela ansiedade e o conforto experimentado com o uso da maconha, maior será a tendência do indivíduo a fazer seu uso crônico e pesado. Ou seja, na verdade, o que se pode adequadamente afirmar a partir das informações cientificas disponíveis, é que adolescentes que usam maconha pesadamente para aliviar ansiedade provavelmente são pessoas com distúrbios neurológicos / psiquiátricos não diagnosticados e que, imprudentemente, se automedicam com a planta.

Então, não é verdade, ou seja, é mentira ou erro de interpretação, dizer que 10% dos adolescentes que fazem uso pesado da maconha se tornam esquizofrênicos.  Com o perdão da redundância, é preciso enfatizar que o que ocorre é que certa proporção dos adolescentes que usam maconha de forma pesada são esquizofrênicos não diagnosticados, sofrendo da ansiedade que caracteriza a fase prodrômica na doença.

Entretanto, mesmo pessoas normais podem experimentar quadros paranoides em decorrência do uso da maconha, situação em que a pessoa sente uma apreensão indefinida acompanhada de desconfortos fisiológicos característicos deste estado psicológico, tais como taquicardia, respiração ofegante e suor nas mãos. Dependendo das circunstâncias emocionais, esta apreensão pode ser direcionada a preocupações comezinhas do dia a dia, tais como um exame escolar, responsabilidades pendentes, ou problemas por resolver, que tomam a intensidade emocional de um pesadelo angustiante. Uma sensação generalizada de medo também pode ocorrer. Entretanto, este efeito é passageiro e não há alucinações, perda de consciência ou alterações comportamentais que caracterizem um surto psicótico propriamente dito. Essas “nóias”, em geral, mas não necessariamente, acontecem quando a pessoa está psicologicamente predisposta a preocupações e faz uso de uma variedade de maconha cuja proporção de THC é muito maior que a de Canabidiol.

THC é o principal principio ativo psicogênico da maconha, entretanto, sua ação é modificada pela interação com outros canabinóides, como é o caso do canabidiol. O THC pode causar ansiedade e conduzir, junto com seus os outros efeitos psicoativos, ao quadro paranoide descrito acima. O canabidiol, por outro lado, reduz a ansiedade e inibe a psicose, podendo impedir o quadro pranóide. Ao fumar uma maconha com baixa concentração de canabidiol ou ao ingerir uma pílula de THC puro, uma pessoa normal poderá passar por essa situação psicologicamente angustiante sem maiores consequências quando os efeitos agudos do THC passarem. Entretanto, para uma pessoa esquizofrênica ainda não diagnosticada, esse quadro paranoide pode ser o gatilho de passagem da fase prodrômica para o primeiro surto psicótico, que revelará então que se trata de uma pessoa com as características que definem o diagnóstico de esquizofrenia.

O fato de o mercado da maconha não ser regulamentado, portanto, está na raiz do problema que conecta seu uso com surtos psicóticos em uma minoria de usuários crônicos. Se a produção e distribuição fossem regulamentadas, as pessoas poderiam adquirir ou cultivar plantas com maior proporção de canabidiol, que é comprovadamente ansiolítico e antipsicótico. Assim, havendo a pressuposta divulgação educacional de informações CORRETAS, uma postura mais racional e ética com relação a maconha poderia, inclusive, evitar expor adolescentes em fase prodrômica às situações descritas acima. Portanto, a despeito de suas boas intenções, o discurso que visa a impedir o uso médico da maconha no Brasil por meio do alarmismo e da ridicularização do tema, é cúmplice dos efeitos indesejáveis que o abuso de maconha pode causar em esquizofrênicos em fase prodrômica, sejam eles adolescentes ou adultos. E é cúmplice também do sofrimento terrível que a proibição do uso médico impõe a pessoas com quadros dos mais diversos, conforme vem sendo amplamente respaldado pela ciência já há muito tempo.

Por Dr. Renato Malcher.

fonte: http://www.planetamaconha.com

Renato Malcher é Mestre em Biologia Molecular pela Universidade de Brasilia, doutor (Ph.D) em Neurociências pela Universidade Tulane (New Orleans, EUA), Fez Pós-Doutorado em Neurofisiologia Celular na Escola Politécnica de Lausanne- Suiça e em Bioquímica Analítica, na EMBRAPA. É professor adjunto do Departamento de Fisiologia da Universidade de Brasília e primeiro autor do livro "Maconha, Cérebro e Saúde" escrito em colaboração com Sidarta Ribeiro.  

Quebrando o Tabu




Quebrando o Tabu tem como principal objetivo a abertura de um debate sério e bem informado sobre o complexo problema das drogas no Brasil e no mundo. O filme pretende aproximar diversos públicos, entre eles os jovens, os pais, os professores, os médicos e a sociedade como um todo, para que se inicie uma conversa franca que leve a diminuição do preconceito, ajude na prevenção ao uso de drogas e que dissemine informações com base científica sobre o tema. O âncora do filme é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que aceita o convite do diretor Fernando Grostein Andrade para uma jornada em busca de experiências exitosas em vários lugares do mundo, sempre em diálogo com jovens locais e profissionais que se dedicam a tratar a questão das drogas de forma mais humana e eficaz do que as propostas na “guerra às drogas”, declarada pelos EUA há 40 anos. Quebrando o Tabu, uma ideia original do cineasta Fernando Grostein Andrade, teve duração de 2 anos.


Há 40 anos os EUA levaram o mundo a declarar guerra às drogas, numa cruzada por um mundo livre de drogas. Mas os danos causados por elas nas pessoas e na sociedade só cresceram. Abusos, informações equivocadas, epidemias, violência e fortalecimento de redes criminosas são os resultados da guerra perdida numa escala global. Num mosaico costurado por Fernando Henrique Cardoso, "Quebrando o Tabu" escuta vozes das realidades mais diversas do mundo em busca de soluções, princípios e conclusões. Bill Clinton, Jimmy Carter e ex-chefes de Estado, como da Colômbia, do México e da Suíça, revelam porque mudaram de opinião sobre um assunto que precisa ser discutido e esclarecido. Do aprendizado de pessoas comuns, que tiveram suas vidas marcadas pela Guerra às Drogas, até experiências de Drauzio Varella, Paulo Coelho e Gael Garcia Bernal, "Quebrando o Tabu" é um convite a discutir o problema com todas as famílias.


Visite o site oficial : http://www.quebrandootabu.com.br

Cortina de Fumaça




Cortina de Fumaça é um projeto independente movido pela vontade de colaborar na construção de uma sociedade mais equilibrada e alinhada com os princípios de liberdade, diversidade e tolerância.
Um documentário ousado sobre um tema polêmico que interessa a todos e que precisa ser debatido de forma honesta; a política de drogas no Brasil e no mundo, baseada na proibição de determinadas práticas relacionadas a algumas substâncias, precisa ser repensada porque muitas de suas conseqüências diretas, como a violência e a corrupção por exemplo, atingiram níveis inaceitáveis.
“O modelo atual de política de repressão às drogas está firmemente arraigado em preconceitos, temores e visões ideológicas. O tema se transformou em um tabu que inibe o debate público por sua identificação com o crime, bloqueia a informação e confina os consumidores de drogas em círculos fechados, onde se tornam ainda mais vulneráveis à ação do crime organizado”. Relatório da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia (2009).
O documentário de 88 minutos, traz informação fundamentada para o grande público através de depoimentos nacionais e internacionais. Além do Brasil, o diretor Rodrigo Mac Niven gravou na Inglaterra, Espanha, Holanda, Suíça, Argentina e Estados Unidos; visitou feiras e congressos internacionais, hospitais, prisões e instituições para conversar com médicos, neurocientistas, psiquiatras, policiais, advogados, juízes de direito, pesquisadores e representantes de movimentos civis. Dentre os 34 entrevistados, o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso; o Ministro da Suprema Corte da Argentina, Raúl Zaffaroni; o ensaista e filósofo espanhol autor do tratado “Historia General de Las Drogas”, Antonio Escohotado, o ex-Chefe do Estado Geral Maior do Rio de Janeiro, Jorge da Silva e o criminalista Nilo Batista.
O filme fala sobre a relação entre o homem e as drogas psicoativas; revela a discordância entre a atual classificação das drogas e o conhecimento científico sobre essas substâncias; discute a situação particular da Cannabis (maconha), seu uso industrial e medicinal; levanta fatos relacionados ao surgimento dos projetos proibicionista e aponta para o colapso social que algumas cidades, como o Rio de Janeiro, vivem por causa da violência e da corrupção.
O filme foi produzido, escrito e dirigido pelo jornalista Rodrigo Mac Niven, numa co-produção entre a J.R. Mac Niven Produções e a TVa2 Produções.
Para o diretor, “é preciso instigar os indivíduos a repensarem a sociedade porque ela está em constante mutação. As pessoas desconhecem informações fundamentais que determinam uma política de drogas que interfere diretamente na vida delas, na liberdade delas, na segurança delas. Uma política que ignora princípios e direitos universais de liberdade e soberania. Muita gente está lucrando com isso e quem sofre é a sociedade que não consegue enxergar tamanha é a desinformação”.

Site Oficial: http://www.cortinadefumaca.com

Maconha não é tão agressiva quanto cigarro, diz Murilo Benício


02/07/2012 - 12h55
DE SÃO PAULO
Destaque como o ex-jogador Tufão em "Avenida Brasil", o ator Murilo Benício, 40, falou sobre a paixão pela carreira e sobre como educa seus filhos.
"Você joga muito tempo da sua vida fora se vive sem fazer o que gosta. Eu tinha na cabeça que seria um ator bem sucedido", disse em entrevista à revista "GQ".
Murilo também comentou que costuma conversar sobre drogas com o filho mais velho Antônio, de 13 anos.
"Converso com o meu filho maior sobre drogas. Digo: maconha não é tão agressiva quanto cigarro. É uma onda gostosa, mas moderação é tudo na vida, entendeu? A pior coisa é dizer 'não faz'", disse o ator.
                 Murilo Benício disse conversar com filho mais velho sobre drogas
Fonte:FolhaMaurício Nahas/Divulgação GQ Brasil